Uma tarde de sexta-feira nesta grande metrópole pode ter muitos sentidos: pode significar a chegada do descanso tão merecido; pode significar o escape do sufoco semanal junto à "galera" para o encontro com a famosa "loira do colarinho"; pode ser o momento da fuga desse transito infernal; pode ter o sentido de coroamento de mais uma etapa vencida; enfim, cada imaginário terá sua interpretação.

Hoje, entrada da primavera, 23 de setembro de 2005, por volta das catorze horas no cruzamento da Paula Ferreira com a avenida Edgar Faccó, recebo pela janela do carro um singelo objeto. De relance, notei que a jovem doadora estava vestida em cores fortes, bem ao tom da pequena flor, em vermelho forte indo para o magenta, que recortada num emborrachado "eva" e montada num caule cilíndrico em madeira, com duas folhas justapostas, também no emborrachado verde, imitando folhas, fundidas em uma base de gesso moldado, formavam um pequeno vaso. A princípio, não dei tanta importância ao objeto, que parecia ser mais uma "tranqueira", daquelas que comumente nos deparamos a todo o momento. O transito fluía lento, num trajeto que de ida e volta normalmente se demora um quarto de hora, nesta sexta, consegui faze-lo em três horas.

Tudo na vida é situado; tempo e espaço, e nosso ser, evidentemente. É ai que a "coisa" pega! Estou no transito, ando, e paro. Olho para um lado, para o outro, para frente, e através dos espelhos, ando, e paro. Só então, aquele pequeno vaso ganha meu olhar. Uma frase num cartãozinho preso ao caule toca meu interior. "As flores embelezam a natureza, a educação dá colorido à vida!" Ah! tem algo mais no verso, é a mensagem do patrocinador do brinde; Colégio Orlando Garcia. Para mim esse estabelecimento de ensino tem uma significação muito especial, já que meus três filhos passaram pela instituição, e agora meu neto lá inicia seus passos rumo ao conhecimento. Maior significado tem a Pessoa do fundador dessa escola, padre Orlando Garcia da Silveira, homem de uma postura e formação inquestionável, pessoa dócil e amiga, marcou a todos que o conheceram. Nesse pensamento nem noto a vagareza do transito, parado e andando, mas...

... Falava da sexta, do objeto, do transito, do Orlando Garcia, até me esqueci da Primavera, estação tão querida, quando se renovam as esperanças e tudo tem mais vida, cor, sentido. Estação que nos faz refletir sobre algo muito importante na vida dos humanos, a própria humanidade. Evocando a figura daquele pequeno vaso, faço analogia com a figura de um homem, que chegou tão desprezível, em uma cidade insignificante, numa terra dominada pelos poderosos de seu tempo. Seu nome, Jesus de Nazaré, que nasceu pobre, em família humilde, foi carpinteiro, o mais "humano-homem" daquelas paragens, que viveu lutando pelo marginalizados, os doentes, os necessitados, enfrentando até os detentores do poder para defender o mais humilde.

"Ser-para-o-outro", foi o que deixou de exemplo, e quando os cristãos o chamam de Salvador, muitas vezes não conseguem penetrar o sentido da palavra Salvação. Muito mais que um sentido espiritual está o sentido humano: de esperança, ternura, otimismo, alegria, coragem, sabedoria. Hoje, não só os cristãos veneram, esse nome, também os seguidores de outras crenças, criaturas das mais diversas culturas, reconhecem que Jesus, é portador de uma mensagem de vida e esperança para o futuro da humanidade, isso é Salvação.

Benedito Camargo é Lider comunitário, cursa o ultimo ano de Teologia e é candidato ao Diaconato permanente para a Arquidiocese de São Paulo.

Leia o que já foi publicado sobre o tema