O Jornal "O São Paulo", semanário da Arquidiocese de São Paulo, do dia 2 de maio de 2006, na cobertura do ato inter-religioso da visita do monge tibetano, dalai-lama, à catedral de São Paulo, acontecido em 29 de maio de 2006. Presentes ao ato, juntamente com dom Cláudio Hummes, líderes do islamismo e do judaismo, bem como outros tantos religiosos de vários credos.
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Quase todos os dias, vemos na mídia, noticias sobre os mais variados tipos de agressões. Quando tentamos compreender as razões de uma disputa, já deparamos com outra, e assim não conseguimos concluir o raciocínio no foco de um dos embates que se travam. Mais importante que entender as razões centrais dessas disputas, é trabalhar com afinco na busca de idéias que nos leve a evitar a origem de tais conflitos. Vem de longe esse aumento gradativo de batalhas, seja de ordem individual ou coletiva, com interesse particular ou grupal. Numa disputa, por mais vontade que um dos contedores tenha de não agredir, seu procedimento acaba ferindo o adversário, por razões que a ele é imperceptível, mas para o outro, é mais que um "cisco no olho". A simples iniciativa na busca do diálogo pode levar o lado oposto a sentir-se inferiorizado. O meio religioso é o mais conturbado com tais mal-entendidos, e parece o mais difícil de chegar a um entendimento sem maiores traumas. Nós, os humanos, temos um olhar muito particular para com as coisas sagradas, e nosso imaginário religioso é o primeiro a ser atingido por qualquer tipo de interferência externa, por mais simples que seja, de imediato nos sentimos agredidos e perturbados. Vimos com apreensão, a reação enérgica de alguns praticantes do islamismo, quando um jornal dinamarquês publicou em 2005, de forma irreverente, imagem do profeta Maomé em forma de caricatura. É pelo relacionamento e não o isolamento que a civilização conseguirá superar todo o tipo de trauma, através de um tratamento respeitoso para com a crença, a cultura e os valores do outro, sem o enfrentamento desnecessário que só gera conflito, violência e desunião entre os povos. Só a prática da sociabilidade pode ajudar na relação entre os diferentes, no convívio, intercâmbio, política, diálogo, interação e negociação em busca da paz. Cabe a cada um, individualmente, praticar a paz, mas é preciso que as lideranças busquem meios e oportunidades de praticarem a sociabilidade, e por tabela, todos os liderados também praticarão gestos concretos, que somará positivo na concretização desse sonho. Fato marcante, foi a acolhida ao monge tibetano e grande líder espiritual e temporal, dalai-lama Tenzin Gyatso, aclamado de pé, por 5 mil pessoas, na catedral de São Paulo, em 29 de maio de 2006, quando o cardeal dom Cláudio Hummes o recebeu dizendo: "Vossa Santidade é muito bem-vinda entre nós". Juntamente com a multidão, outros tantos líderes de muitos outros credos, ouviram a palavra do dalai, confirmando que a humanidade carece desses momentos, para aprendermos a ter uma melhor convivência, resultando com isso muito mais tolerância e respeito nessa diversidade de credos e culturas que vivemos. Benedito Camargo é Bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, São Paulo, Diácono Permanente na Arquidiocese de São Paulo. Leia o que já foi publicado
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