por
Benedito Camargo
13/04/2013
Mausoléu de Tibiriçá, nosso bisavô-fundador do bairro
Marcia Regina Alves, e a câmara mortuária do padre Aguinaldo José Gonçalves
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Naquela tarde chuvosa e fria pela falta de sol, na porta da igreja Matriz, num misto de adultos apreensivos e crianças acesas, aguardavam a saída em passeio, do grupo da Catequese, rumo ao centro de São Paulo. Enquanto as mães e pais meio macambúzios acompanhavam com o olhar atento a entrada das crianças no "busão", aos gritinhos e movimentos rápidos elas tomavam assento, para alguns, uma novidade, andar de ônibus pela primeira vez, uma grande aventura.
A partida foi uma festa, depois da "chamada", falatório estridente e alegria incontida, foi difícil conseguir um tempo de silêncio, pedido pelo padre Márcio, que queria iniciar a oração, um pedido a Deus, de proteção e sucesso, na visita que iriam fazer à sede-mãe da Igreja em São Paulo, a Catedral da Sé.
Não demorou muito a viagem, e lá chegando, o mais complicado foi o desembarque do ônibus, a "São Paulo da garoa" se fazia presente, como que a nos recordar um passado não muito distante.
As dependências da catedral foram vistas e conhecidas sob a orientação da monitora Vera, que acompanhou o grupo e falou sobre altares, imagens, colunas, vitrais, confessionários, e também sobre o Santo Sudário e objetos da crucifixão de Jesus e outros que eram contemporâneos a tal acontecimento.
O objetivo principal da visita era conhecer a Cripta, local onde estão os restos mortais de tantos personagens da história de São Paulo. Foi fascinante ver aqueles catequizandos, que a tudo observavam, fotografavam e perguntavam, ansiosas em saber mais sobre tudo aquilo. Momento forte foi quando todos os participantes do passeio se achegaram ao local onde se encontra o mausoléu Tibiriçá. Lá foi exposto pelo diácono Camargo parte da História que liga a Freguesia do Ó à Sé e também sobre o parentesco do Cacique Tibiriçá, bisavô de dona Águeda Rodrigues, fundadora do Bairro. Em 1554, Tibiriçá, que em tupi significa "olhos da terra", foi o guardião dos padres que formaram a pequena Vila de "São Paulo dos Campos de Piratininga", quando chegaram do litoral.
Em 1580 bem distante da Vila, quando da formação do nosso povoado, o casal Manuel Preto e sua mulher Águeda Rodrigues, filha de Clara Parente e neta da filha de Tibiriçá, a india Terebê, construíram uma pequena Capela na Fazenda e doaram à Igreja juntamente com parte de sua propriedade, para que pudessem cumprir suas obrigações de preceito, em sua localidade, e não ter que ir até a Vila de São Paulo, sede da Igreja local, pela dificuldade da distância, dos caminhos e dos meios de locomoção da época. Mais tarde, em 1796, depois da construção da antiga matriz, pelo padre Franco da Rocha, a Rainha de Portugal concedeu o título de "Filii Eclesiae" - Filhos da Igreja - constituindo-a autônoma no desmembramento da sede central, a Freguesia da Sé.
Algo memorável foi encontrar na Cripta, a câmara mortuária do padre Aguinaldo José Gonçalves, que foi pároco na Freguesia do Ó de 1927 até 1936. Em 1949 recebeu o título de monsenhor e seus restos mortais se encontram na Cripta porque foi Cura da Catedral da Sé de 1938 até 1955.
Ficaram o registro e também as fotos, porque o tempo esvai, e logo, ninguém mais se lembrará do que aconteceu nesta tarde de Abril.
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Livro do Tombo do ano de 1747, da "Parochia da Sé", f 18 e 19 do Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo.
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