Um bairro que tem história preserva sua memória.
Benedito Camargo



Nossa Senhora do Ó. Imagem em pedra, quatrocentista, da antiga Igreja de Santa Maria do Castelo. Acervo do museu Municipal de Torres Novas, Portugal.

A pedido da comunidade, e como colaborador do Portal do Ó, o casal Hilda e Armando Lopes Baptista, que há muito tempo militam como voluntários na Obra e Fundação Nossa Senhora do Ó, em viagem a Portugal tiveram por missão, além de rever a família, tentar resgatar um pouco da história da Freguesia do Ó. O casal residente neste bairro de São Paulo possue também propriedades em Ourém e Fátima, e lá com a ajuda do padre José Reis – primo do Armando – foram apresentados ao padre Luciano Cristino do “Serviço de Estudos e Difusão – SESDI” do Santuário de Fátima. Na ocasião, Armando fez a doação de um exemplar do livro “200 anos de Paróquia Nossa Senhora do Ó, 1796-1996”, do qual foi um dos colaboradores na edição, com uma dedicatória ao padre Luciano e a Biblioteca do Santuário. Recebeu, Armando, rico material bibliográfico sobre a origem da imagem e devoção a Nossa Senhora do Ó em Portugal.
Orientado, pelo padre Luciano, a visitar a Cidade de “Torres Novas”, Armando esteve nas ruínas da antiga igreja de Santa Maria do Castelo, onde se iniciou o culto a Nossa Senhora do Ó em Portugal, cuja festa, teve origem no século VII a partir do Concílio de Toledo, com o nome de Festa da Anunciação; depois passou a chamar-se Expectação do Parto de Nossa Senhora; e finalmente, Festa de Nossa Senhora do Ó¹. Visitou, também, o museu municipal de Torres Novas, onde atualmente se encontra a imagem da virgem grávida, que fora cultuada no altar-mor da igreja matriz de Santa Maria do Castelo em Torres Novas². Lá também deixou um livro dos “200 anos de Paróquia Nossa Senhora do Ó, 1796-1996”, com dedicatória, entregue a Dra. Cláudia, responsável pelo museu, que o presenteou com o catálogo “Imagens do Homem Idades de Deus”, editado pelo museu, que possui rico e diversificado patrimônio sacro, provindos de muitas igrejas, capelas e ermidas.
Para a Freguesia do Ó, o material recolhido é de grande valor histórico e confirma a origem do nome do bairro e a devoção à padroeira, a virgem do Ó, cuja festa acontece no dia 18 de dezembro. Reforça também a convicção de cuidar desse patrimônio cultural e religioso que nos pertence, e que nem sempre é respeitado segundo o pensamento cristão. Armando, na ocasião da entrega do material icono-bibliográfico, falou de sua indignação pela pintura realizada no prédio da Casa de Cultura “Salvador Ligabue”, onde foi retratada a figura da virgem numa postura um tanto vulgar, não condizente com a figura de Maria, a mãe de Jesus, muito menos de uma jovem de origem judia, cujo povo valoriza o recato da mulher. Realmente, a figura produzida na parede do prédio público, lembra pela postura e semblante, muito mais uma mulher leviana, do que uma grávida feliz por carregar em seu ventre um novo ser. Os idealizadores da obra não tiveram o senso necessário, distorcendo algo tão profundo e valioso no coletivo popular. Na verdade retrataram uma caricatura de Maria, pior ainda, quando alegam ser uma homenagem à Padroeira do bairro. Um verdadeiro deboche. O imaginário religioso devocional do povo católico deve ser respeitado. Muitas foram as pessoas que denunciaram essa falta de respeito, e com toda razão, sentiram-se feridas e agredidas no mais profundo de seu ser, em sua fé. Por muito menos em outras tradições religiosas já teriam dado uma resposta mais agressiva, o que nunca seria justificado, já que toda agressão precisa ser banida do meio da humanidade. Humanidade que foi assumida por Jesus Cristo, o Filho de Deus, que através de uma mulher recebeu um corpo, em cujas veias correu sangue, o sangue derramado na Cruz, Sangue da Redenção. Por Maria, a virgem, que recebeu o título Senhora da Expectação do Ó, é por essa mulher, a Mãe de Jesus, que o povo exige respeito.

1. Pe. JACINTO DOS REIS, Invocações de Nossa Senhora em Portugal de Aquém e Além-mar e seu padroado, Edição do Autor, Lisboa, 1967, p. 399-400.
2. Fr. AGOSTINHO DE SANTA MARIA, Santuário Mariano, e História das images milagrosas de Nossa Senhora, e das milagrosamente apparecidas, em graça dos pregadores, & dos devotos da mesma Senhora., Tomo Segundo, Lisboa, Officina de Antonio Pedrozo Galrão, 1707, p 230-235.

Benedito Camargo é Bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, São Paulo, Diácono Permanente na Arquidiocese de São Paulo.

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