O grupo da malha do largo da matriz velha
Benedito Camargo



“Como é bom vê-los despreocupados, só ligados na conversa e no jogo.
Jogo que é mais um "encher-o-tempo" que competição.”

É sábado, quatro de dezembro de 2010, ano em que a Freguesia do Ó, bairro importante da capital paulista, comemora seus 430 anos de existência. Estamos em tempo de advento, tempo de espera, d’Aquele que tudo criou e tudo governa com amor e ternura. Governo que nem sempre é aceito por nós, simples criaturas, que em tempos idos, depois de tanta rebeldia, opressão e tirania dos poderosos sobre os fracos, abriu-se os céus e dele desceu uma criança indefesa, carente e sem-teto, filho de Maria e cuidado por José, o carpinteiro de Nazaré. Essa foi a “primeira vinda” do Rei Jesus, que passou pela terra fazendo o bem e ensinando a fraternidade. Seu reinado acabou numa cruz porque não entendemos sua mensagem.

Uma "vinda intermediaria” acontece, aqui e agora, e nela estamos mergulhados, se não como aliados, vivendo o altruísmo, a solidariedade, a compaixão, dela seremos cúmplices, pelas atitudes que geram desamor, egoísmo e opressão. Aí vem a pergunta: Tudo o que nos rodeia está conforme a vontade daquele que nos criou?

Olhando aqueles homens, a maioria aposentados, maduros, em terceira idade, entretidos na praça, vejo a realização dessa vinda intermediária. Uns preparam a churrasqueira, outros servem as latinhas de bebidas, todos - indistintamente - jogam conversa fora, enquanto duas duplas de parceiros jogam malha, na quadra bem cuidada e limpa do largo da matriz velha. Em meio ao vozerio disforme, intercalado por instantes de silêncio, escuta-se o tilintar do medalhão na superfície de cimento e pedras, brilhante e bem polida pelo constante uso. Como é bom vê-los despreocupados, só ligados na conversa e no jogo. Jogo que é mais um "encher-o-tempo" que competição. Estando na praça e ocupados em “nada fazer”, pelo menos não ficam azucrinando a cabeça de seus familiares com lamúrias e desencontros, e estão vivendo seu tempo, com alegria e qualidade de vida, ao menos no lazer.

Para tudo existe um tempo, e agora, é tempo de molecagem, tempo de convivência tranqüila, harmônica e solidária, enquanto aguardamos a vinda d'Aquele que “veio, vem, e virá” - o Senhor do tempo. Senhor que é Rei, o Rei Jesus, que “novamente virá” para colher tudo o que, de bom, dele aprendemos. Uma é a certeza, que Ele nos encontre alegres e felizes como garotos despreocupados na praça, só vivendo essa irmandade solidária, onde ninguém é menos, ou mais. Somos todos irmãos.

Veja o vídeo do evento:
Veja o vídeo dessa turma no dia do evento.

Benedito Camargo é Bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, São Paulo, Diácono Permanente na Arquidiocese de São Paulo.

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